A Relação Entre Cefaleia e Apneia do Sono
*Por Alexandre Annibale
As dores de cabeça, comumente conhecidas como cefaleias, abrangem uma variedade de condições, podendo ser primárias ou secundárias. Entre as formas mais comuns estão a cefaleia tensional e a migrânea, ou enxaqueca. No entanto, um tipo específico de dor tem chamado a atenção em pacientes com Apneia Obstrutiva do Sono (AOS): as dores matinais. Esses pacientes frequentemente relatam esse sintoma, associado a outros sinais clássicos como ronco e fadiga excessiva durante o dia.
Pesquisas mostram que as dores de cabeça matinais estão presentes em uma boa parte dos indivíduos com distúrbios respiratórios do sono, com taxas de prevalência variando de 15% a 60%. Embora o mecanismo exato ainda não esteja completamente esclarecido, algumas hipóteses foram levantadas, incluindo vibrações causadas pelo ronco, a baixa oxigenação no sangue e o aumento transitório da pressão intracraniana. Essas alterações fisiológicas afetam o fluxo sanguíneo cerebral e podem desencadear as dores.
O tratamento da apneia tem mostrado resultados positivos na redução desses sintomas. Um estudo com 13 pacientes, tratados com Aparelho Intraoral (AIO), demonstrou que 62% relataram melhora significativa após dois anos de uso do dispositivo. Especificamente em relação às dores relacionadas ao distúrbio, a redução foi de quase 50%. O AIO atua ao reposicionar a mandíbula, ajudando a manter as vias aéreas desobstruídas durante o sono, o que diminui a fragmentação e a hipóxia, fatores diretamente ligados ao desenvolvimento das dores matinais.
A adesão ao tratamento com AIO está associada a melhores resultados. A fragmentação do sono e as baixas de oxigênio, observadas durante a polissonografia, parecem ser agravantes importantes para o quadro. O sono de baixa qualidade, causado pela apneia, afeta diretamente a produção de hormônios e mediadores químicos que ajudam a controlar a dor, como as endorfinas. Em indivíduos com essa condição, a redução na produção de endorfinas e a liberação de agentes inflamatórios podem diminuir o limiar de dor, tornando-o mais sensível e difícil de controlar.
Essas dores, relacionadas ao distúrbio do sono, não devem ser subestimadas. Pacientes que sofrem de dores de cabeça, especialmente aquelas que ocorrem pela manhã, devem ser avaliados quanto à presença de distúrbios do sono. O tratamento adequado pode trazer benefícios significativos, não só para melhorar a qualidade do descanso, mas também para reduzir ou eliminar o problema associado. A integração entre neurologistas e especialistas em distúrbios do sono é fundamental para garantir que os pacientes recebam um diagnóstico completo e o tratamento correto.
Com o avanço da tecnologia, dispositivos como o Aparelho Intraoral (AIO) oferecem uma solução prática e eficiente para o tratamento dos distúrbios respiratórios durante o sono e suas consequências. O controle adequado melhora substancialmente a qualidade de vida dos pacientes, permitindo que desfrutem de noites mais tranquilas e, consequentemente, de dias livres das dores que afetam tanto o bem-estar.
*Alexandre Annibale é cirurgião dentista, especialista em ortodontia, capacitado em odontologia do sono e doutorando pelo laboratório do sono do InCor, da Faculdade de Medicina da USP.
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