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Relação Entre Apneia do Sono e Doenças Cardíacas 

Relação Entre Apneia do Sono e Doenças Cardíacas 

*Por Alexandre Annibale 

 

A apneia obstrutiva do sono (AOS) é um distúrbio respiratório que vai além da sonolência excessiva: ela representa um perigo silencioso e constante para o coração. Em pacientes com apneia, as vias aéreas se fecham parcial ou completamente por alguns segundos, interrompendo o fluxo de ar e a respiração. Isso ocorre repetidamente durante o sono, e, cada vez que o ar deixa de fluir, o nível de oxigênio no sangue cai, desencadeando uma série de reações prejudiciais ao sistema cardiovascular. 

 

Em resposta à falta de oxigênio, o corpo ativa mecanismos de defesa para restaurar a respiração, aumentando a pressão arterial e a frequência dos batimentos cardíacos. Esse aumento frequente da pressão arterial pode tornar-se crônico, levando à hipertensão, uma das principais causas de doenças cardíacas. O coração passa a trabalhar continuamente em um estado de sobrecarga, compensando a falta de oxigenação, o que enfraquece o músculo cardíaco ao longo do tempo. Como resultado, pessoas com apneia têm maior probabilidade de desenvolver insuficiência cardíaca, condição em que o coração perde a capacidade de bombear sangue com eficiência. Esse esforço constante acaba acelerando o desgaste do sistema cardiovascular, tornando os danos cumulativos e progressivos. 

 

Além do aumento da pressão arterial, a apneia do sono desperta uma resposta de alerta no corpo, conhecida como “luta ou fuga,” que libera hormônios de estresse, como o cortisol e a adrenalina. Esses hormônios têm um papel importante na sobrevivência, pois preparam o corpo para reagir rapidamente a situações de perigo. No entanto, em pessoas com apneia, essa resposta é ativada de forma frequente e desnecessária, levando o organismo a um estado de estresse crônico que aumenta o ritmo cardíaco, estreita os vasos sanguíneos e eleva ainda mais a pressão arterial. Esse círculo vicioso de sobrecarga afeta a saúde dos vasos sanguíneos e do coração, criando um ambiente propício para o desenvolvimento de doenças cardíacas, incluindo arritmias e ataques cardíacos. As arritmias, caracterizadas por batimentos cardíacos irregulares, são particularmente comuns em pessoas com apneia, uma vez que a falta de oxigênio e o estresse causam oscilações bruscas na frequência cardíaca. Em situações extremas, essas irregularidades podem desencadear um quadro de insuficiência cardíaca e aumentar as chances de um infarto, muitas vezes com consequências fatais. 

 

Além do impacto direto sobre o sistema cardiovascular, a apneia do sono afeta o metabolismo, promovendo alterações hormonais que dificultam a perda de peso e aumentam a resistência à insulina, um dos fatores de risco para o desenvolvimento de diabetes tipo 2. A resistência à insulina e o ganho de peso são condições que, por si só, já representam ameaças à saúde cardiovascular, uma vez que a obesidade e o diabetes também são precursores de doenças cardíacas. Assim, a apneia cria um terreno perigoso, onde as alterações metabólicas e cardiovasculares se somam e aumentam ainda mais o risco de complicações sérias. Muitos pacientes com apneia relatam cansaço constante e falta de disposição, o que impacta diretamente a capacidade de praticar atividades físicas e adotar uma rotina saudável. Esse desgaste físico e mental torna ainda mais difícil a implementação de hábitos essenciais para o controle dos fatores de risco cardíacos, como a prática de exercícios e uma alimentação equilibrada. 

 

A apneia do sono, quando diagnosticada e tratada adequadamente, pode ter seus efeitos atenuados, reduzindo os riscos à saúde cardiovascular. O tratamento pode envolver diversas abordagens, como o uso do CPAP, um dispositivo que mantém as vias aéreas abertas durante o sono, garantindo a oxigenação constante e interrompendo o ciclo de interrupções respiratórias. Outros tratamentos incluem o aparelho de avanço mandibular, mudança de hábitos de vida, perda de peso, terapia posicional e até procedimentos cirúrgicos em casos específicos. Cada uma dessas opções contribui para melhorar a qualidade do sono e aliviar o estresse sobre o sistema cardiovascular. A adoção de uma abordagem multidisciplinar, envolvendo profissionais de diversas áreas da saúde, é essencial para garantir que tanto a apneia quanto os fatores de risco associados, como a hipertensão e o metabolismo alterado, sejam controlados com eficácia. 

 

*Alexandre Annibale é cirurgião dentista, especialista em ortodontia, capacitado em odontologia do sono e doutorando pelo laboratório do sono do InCor, da Faculdade de Medicina da USP. 

 

Av. Rebouças, 411 (Jardim Paulista), São Paulo, SP 

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